domingo, 16 de outubro de 2011

Ontem.

Quando eu tinha 17 anos, eu gostava de um garoto que, para confundir minha cabeça, não decidia se gostava ou não de mim também... Ele era um pouco mais alto que eu e um pouco mais magro também, o que não me importava, porque era de seu sorriso que os meus olhos não desgrudavam sequer um segundo... 

Ele ria de tudo, de uma piada sem graça que ouvia, de um barulho estranho que vinha da rua e, principalmente, de mim. Eu, porém, não me importava, porque o que eu mais queria era vê-lo sorrir. Clichê, não? Mais é difícil fugir do clichê quando nos sentimos assim, como eu estava me sentindo naqueles dias...

Da mesma boca que expunha um sorriso doce e, algumas vezes tão malicioso (o que eu adorava), também saía palavras rudes que muitas vezes me magoavam... Saía pedidos de desculpas frouxos, que de tão frouxos, passavam rápidos por meus ouvidos que eram confundidos pelos braços longos do meu coração que os seguravam ali, impedindo que a minha razão, rouca de tanto gritar, fosse ouvida mais uma vez...

Eu gostava desse garoto que não me deixava em paz um segundo sequer. Ele insistia em ir e vir, seguindo-me sem pedir permissão. Ele me segurava aqui, segurava ali, impedindo-me de fazer as coisas sozinhas, por mais que eu não quisesse fazê-las sem ele. Ele me beijava e me xingava ao mesmo tempo e eu virava o rosto e fingia não ter escutado, rindo para que aquelas palavras passassem despercebidas pelo meu amor-próprio, já quieto e sem voz, tentando ajudar a minha pobre razão, já tão abatida.

Esse garoto me olhava intensamente sempre que estávamos juntos, mas não permitia que assim eu o olhasse, com medo, talvez, da intensidade de sentimentos que o transmitia por aquele simples ato. Quando nos permitíamos pois, mesmo que por pouco tempo, sermos cobertos pelos olhares um do outro, eu notava sutilmente aquele ar de interrogação contínuo, cobertos de medos de entregarmos nossas mentiras e o pior de tudo, nossas verdades escondidas.

Seja lá o que escondiamos um do outro não podia ser algo bom. Eu sabia o que sentia por ele, mas fingia que não, para não cair. depois de um paço em falso, em um mar de sentimentos desconhecidos, também ofuscados pelas mil e uma facetas daquele garoto que eu achava gostar aos 17 anos.

Como era engraçado aquele garoto que falava bobagens o tempo todo e que de tão constante que eram essa profusão de palavras cômicas, somente eu ria delas com o passar do tempo. Como era irresponsável aquele garoto que não tinha medo de dar as costas às coisas mais importantes, uma delas, o meu sentimento. Como era imaturo aquele garoto que, por assim ser, ainda era tratado por mim como tal...

Aquele garoto que eu gostava aos 17 anos era lindo. Ele gostava dos meus olhos castanhos e quando eu me irritava com ele por causa de algum motivo tolo. Ele ria quando eu era irônica e não entendia quando eu estava sendo sarcástica. Ele me chamava de linda e eu não acreditava nisso nem por um segundo, mesmo que eu não me achasse assim tão mal. Ele segurava minha mão enquanto eu fechava os olhos, sonolenta, e falava algo totalmente errado na hora que eu mais queria ouvir algo óbvio.

Nossa! Como eu gostei daquele garoto aos 17 anos... E apesar da vergonha de falar isso em voz alta, vejo o quanto é lindo escrever sobre ele hoje e poder reler e lembrar desse sonho que eu tive ontem que parecia tão real... Pena que ele não me disse seu nome ou mesmo onde encontrá-lo, talvez ele não quisesse me ver novamente, não sei... 

Ou talvez ele só estivesse esperando que eu o procurasse novamente, por medo de se tornar real antes que eu deseje isso mais que ele.



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